6 de novembro de 2009

Realidade Brasileira



Essa semana passei por uma experiência que me mostrou bastante sobre o que é ser brasileiro...Aquele brasileiro da TV...não os da novela que mesmo no núcleo pobre são felizes, bem alimentados e que frequentam a zona sul do Rio. Conheci finalmente aquele povo que vemos lutando por vagas nos hospitais e esperando com paciência para serem finalmente atendidos.
Meu pai fez cateterismo no Dante Pazanezzi, hospital público que é de primeiro mundo. Não tem nada a ver com aqueles hospitais que vemos na televisão que não tem a mínima estrutura de atendimento...não, pelo contrário, arrisco a dizer que se eu tivesse chegado lá com os olhos vendados e sem saber que era um hospital público, eu apostaria que estava em um hospital particular.
As pessoas porém, essas sim não disfarçavam a sua necessidade e carência...
O exame do meu pai estava agendado para as 11:00 e 11:40 foi chamado para o exame e fiquei esperando...esperando...esperando.
Daqui a pouco chegou uma mulher que certamente tinha a minha idade ou era até um pouco mais nova, mas que aparentava ser bem mais velha do que eu e me pediu ajuda.Ela precisava preencher uma ficha e havia esquecido os "óculos de perto" e pediu para que eu fizesse isso. Preenchi a ficha para a mulher que estava acompanhando uma senhora de 77 anos, que parecia ter uns 90, pois a senhorinha era viúva e morava em um "sobrado" geminado ao dela e tinha tido 3 infartos há uma semana e agora precisava fazer o exame...Foi salva porque quando enfartou teve a presença de espírito de bater na parede do quarto daquela mulher que a socorreu.
Bem, depois disso voltei a me entreter com os joguinhos do meu celular, quando ela voltou a me chamar porque tinha recebido uma ligação no celular dela e não sabia ver de quem era. Novamente, ajudei a mulher a achar a mensagem e li a mesma para ela...
Nesse momento já havia parado de jogar com meu celular e comecei a reparar na cara de todos que estavam ali...A maioria tinha o semblante sofrido, não só aqueles que estavam esperando o exame, mas sim seus acompanhantes. O sofrimento estava estampado no rosto, na maneira de agir e principalmente na maneira de reagir aos fatos que ali se apresentavam...Um senhor que tinha o cateterismo marcado para as 12:10, apenas uma hora depois do do meu pai, foi chamado para fazer o exame as 16:00 e lá permaneceu resignado até ser chamado, como quem já estivesse acostumado à essa situação.
Agora estou destraído, assistindo um filme idiota que estava passando na televisão quando escuto o seguinte diálogo ao meu lado:
"puxa, não sei como fazer...A senhora pode preencher para mim?"
"xiii, não dá sou analfabeta"
"eu também"
Daí, não resisti e disse: "eu preencho para a senhora" que veio acompanhado do famoso Deus lhe pague...
Já escutei isso diversas vezes e pela primeira vez pensei que ele não precisaria me pagar porque sou um privilegiado e portanto já recebi tudo de bom que Ele pode nos dar.

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